'Cor de pele não interfere em nada', diz nova protagonista negra de 'Romeu e Julieta'

  • Por Jovem Pan
  • 10/08/2018 11h43 - Atualizado em 20/11/2018 02h34
Johnny Drum/Jovem Pan Equipe de "Romeu & Julieta" contou detalhes da peça

Um clássico de William Shakespeare em formato de musical. Embalado com hits de Marisa Monte. E com diversos atores negros. Incluindo a protagonista. Assim é Romeu & Julieta, nova montagem do espetáculo que acaba de entrar em cartaz em São Paulo. A ideia dos organizadores é tentar quebrar a barreira da erudição – sem deixar a poesia de lado – e aproximar o autor do povo, especialmente do jovem. A atriz responsável pela mocinha é Bárbara Sut, que, em entrevista ao Morning Show nesta sexta-feira (10), naturalizou sua escolha para encabeçar o elenco.

“Acho que a dificuldade que eu tive é a dificuldade que qualquer atriz tem ao se deparar com uma personagem como Julieta. A cor de pele não interfere em nada. Até porque essa não é uma temática da peça. Shakespeare não coloca a razão pelo ódio como uma razão racial. O grande acerto, a maior ousadia do diretor, acho que foi não tentar justificar o porquê de ter uma Julieta negra. O que aparece no palco é um reflexo da população brasileira, somos misturados, não teria porque no palco ser diferente”, disse.

Guilherme Leme Garcia, o diretor, apoiou o discurso. “De uns tempos para cá é quase uma obrigatoriedade fazer a inclusão de todas as etnias nos trabalhos teatrais. Por muito tempo o negro tentou batalhar papeis. Havia uma exclusão. É hora de não olhar a cor da pele. A etnia. Somos artistas, podemos fazer todo e qualquer papel independete de cor, raça ou sexo”.

A ideia inicial da peça foi do próprio Guilherme. Adaptar a obra do escritor para torná-la mais popular era um sonho antigo em sua carreira no teatro. Segundo ele, Romeu & Julieta, por falar sobre a relação de dois protagonistas adolescentes e abordar a questão da intolerância, na verdade, sempre foi um espetáculo “pop”, só faltava deixá-lo mais contemporâneo. Uma das ações aqui foi retirar do texto a segunda pessoa do plural, o sofisticado “vós”.

“Shakespeare escreveu para o povo. No teatro ficavam mil pessoas sentadas, os nobres, e duas mil em pé durante três horas. O povão! Ele falava com o povo. A segunda pessoa aparecia porque na época se falava assim”, explicou. “Ele foi muitos anos um lugar de erudição que distanciava o grande público. Aproximá-lo sempre foi meu sonho. Através do Gustavo [Gasparani, adaptação e roteiro musical] consegui trazer a Marisa para estar junto nessa viagem (…). Ela passeia em todos os gêneros. Em um primeiro momento eu falei ‘olha, eu gostaria muito porque ela canta o amor como ninguém, mas não sei se dá conta de ter música para todas as situações da história’. Ele falou ‘deixa comigo’. E conseguiu lindamente por causa dessa pluralidade”, disse.

O espetáculo fica em cartaz no Teatro Frei Caneca, região central de São Paulo, entre os dias 10 de agosto e 21 de outubro. As sessões acontecem às sextas (20h30), sábados (16h e 20h) e domingos (19h). Ingressos e mais informações no www.ingressorapido.com.br

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